VEREADORA TATIANE FRIZZO (PSDB): Bom dia, senhora presidenta, nobres pares e colegas vereadores. Quero iniciar falando a respeito de um tema que é de fundamental importância e que, sem dúvida alguma, a gente precisa falar sobre esse assunto, precisa fazer ações a respeito, propor projetos, políticas públicas, campanhas. E é algo que a Procuradoria Especial da Mulher, assim como o meu gabinete, vem fazendo. Inicio a minha fala então agradecendo à vereadora Estela pela cedência do espaço. Vou pedir então para o pessoal da TV Câmara mostrar, para quem está acompanhando a gente em casa, o nosso tema de hoje. Então quero falar sobre a Semana de Combate ao Feminicídio. Essa é uma proposição, é uma legislação feita por mim, enquanto vereadora, justamente porque a gente acredita e verifica que, de fato, os casos de feminicídio ainda são muito altos e que a gente precisa trabalhar, lutar para mudar essa realidade. Então, para quem está nos acompanhando, pode assistir que nós tivemos um aumento na quantidade de feminicídios que foram consumados. Ou seja, que foram de fato efetivados. E também houve um aumento nas tentativas de feminicídios, o que faz com que a gente tenha um alerta, que a gente se dê conta do quanto é importante que a gente faça ações, faça campanhas, faça discursos, faça legislações. E aqui a gente está hoje no dia 24 de novembro, a data que antecede também os 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, que se inicia junto com a Semana de Combate ao Feminicídio, amanhã, dia 25. Então, em razão disso, nós teremos diversas atividades em parceria com a Coordenadoria da Mulher, da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Mas eu quero me ater a alguns dados. Dados trazidos recentemente pelo GZH demonstram que já tivemos, em Caxias do Sul, sete feminicídios. E aqui eu quero relembrar os últimos deles. Daiana da Luz, de 38 anos, que foi assassinada a tiros em 16 de novembro, por volta das 10 horas da noite, dentro da sua casa, no Bairro Cruzeiro. O autor, então, foi o Paulo Fernando, companheiro da vítima, e que acabou atirando contra ele próprio após cometer esse crime. Em 14 de maio, nós tivemos também Marivane Geraldina Cavalheiro de Oliveira, de 49 anos, encontrada morta, lá em Galópolis, junto com marido, que acabou cometendo suicídio. Em 3 de abril nós tivemos a Jéssica de Paula Rodrigues, de 25 anos, encontrada morta com golpes de faca no Bairro Belo Horizonte. O suspeito se apresentou à polícia e acabou sendo preso. Esses são alguns dados. E, mais importante do que números, são pessoas reais, pessoas que estavam na nossa comunidade, que têm família, filhos. Muitas dessas crianças, infelizmente, inclusive presenciam essas cenas, o que traz uma dificuldade enorme para o futuro e nos traz um problema muito real, que são os órfãos do feminicídio. De que forma a gente vai tratar essa pauta e os impactos que isso traz na vida dessas crianças? Então, eu preciso falar que, em março de 2022, nós tivemos então a criação da Lei nº 8.783, que instituiu a Semana Municipal de Conscientização e Combate ao Feminicídio. Essa lei então é de minha autoria e ela tem como objetivo principal fomentar diálogo sobre o assunto, que a gente leve conhecimento, que a gente fale do papel de homens e de mulheres, mas principalmente que a gente pense em ações práticas para combater esse tipo de situação. Por isso, levei então para a Procuradoria Especial da Mulher, que é composta por cinco vereadoras aqui desta Casa, para a gente fazer uma série de ações em que estaremos conversando com a população, entregando material, trazendo os números de pedido de auxílio, Delegacia da Mulher, coordenadoria, onde as mulheres podem buscar auxílio. E principalmente, vereador Sandro Fantinel, que acho que é algo bem importante, existe um projeto pioneiro, em Caxias do Sul, que ele trabalha com os homens que cometem violência contra as mulheres: o Projeto Hora. Então, tão importante quanto pensar em ações...
VEREADOR SANDRO FANTINEL (PATRIOTA): Peço um aparte, vereadora.
VEREADORA TATIANE FRIZZO (PSDB): Para a gente combater a violência doméstica é a gente reabilitar aquele homem que cometeu essa violência contra a mulher, porque ele vai ter outros relacionamentos e, muitas vezes, ele acaba repetindo aquilo que ele fazia com a sua companheira, repetindo em outros relacionamentos. Então a gente tem dados muito importantes da Elaene Tubino, que é a psicóloga que trabalha esse projeto, com relação aos homens que acompanham esses encontros. São 10 encontros promovidos. Quase nenhum... Se eu não me engano, teve um só que voltou a reincidir, mas a maioria não voltou. Então a importância de os homens participarem. A gente pensa sempre na política pública de proteção às mulheres, mas a gente precisa pensar em ações voltadas para os homens e, mais do que isso – a gente acaba se repetindo nas palavras –, a gente precisa dos homens junto conosco nessa pauta. Por vezes, a gente... Nós, mulheres, estamos sempre falando disso. Falando, pedindo apoio, engajamento nas campanhas. Essa não é uma luta das mulheres. Essa tem que ser uma luta de toda a sociedade. Nós estamos falando de mães, de irmãs, de primas, vizinhas. Várias mulheres que estão nessas situações. Eu gostaria agora de exibir um vídeo que traz um pouco dessas realidades e que é bem interessante para a gente ter uma ideia de como está a situação de violência aqui na nossa cidade e também no estado. (Apresentação de vídeo).
PRESIDENTA DENISE PESSÔA (PT): Apenas só para informar que está seguindo em Declaração de Líder, vereadora.
VEREADORA TATIANE FRIZZO (PSDB): Obrigada, vereadora.
VEREADORA ESTELA BALARDIN (PT): Permite-me um aparte, vereadora, em momento oportuno?
VEREADORA TATIANE FRIZZO (PSDB): Então a gente vê o quanto nós precisamos avançar ainda nas políticas públicas. Eu costumo dizer “bom seria se não precisássemos estar aqui levantando esse tema, pensando em ações, fazendo projetos de lei, porque não existiria a violência.” Isso seria o nosso ideal. O seu aparte, vereador Sandro Fantinel.
VEREADOR SANDRO FANTINEL (PATRIOTA): Obrigado, vereadora Tati. Eu acho bastante importante o que a senhora traz, isso. É algo muito triste na nossa sociedade. Mas acredito eu que, no primeiro ano desta legislação, eu não lembro se foi a vereadora Marisol, se foi a senhora que levantou esse mesmo tema no nosso primeiro ano de legislação, e eu fiz um comentário. A senhora mesma apresentou aqui que os feminicídios vêm aumentando, correto? Se nós voltarmos no tempo 10, 12, 15 anos atrás, a gente vai ver que, em cidades do tamanho que Caxias tem hoje, os feminicídios eram um percentual 10 vezes mais inferior do que está tendo hoje. Onde é que eu quero chegar com a minha fala? Que quanto mais estão endurecendo as leis em cima do agressor, mais está piorando a situação, e tende a piorar mais. A Lei Maria da Penha já provou que é um fracasso, porque não protege ninguém. Porque a mulher... Quantas mulheres que encontraram assassinadas com a folha no bolso da Maria da Penha. Adiantou o quê? Nada. Entende? Então eu acho que esse trabalho, vereadora – é uma posição minha, uma visão minha –, esse trabalho que estão fazendo com os homens tem que fazer com as mulheres também. Sabe por quê? Porque a minha mulher e as que estiveram do meu lado até hoje, sempre me fizeram fazer o que elas quiseram, sempre. Elas me convenceram a fazer o que elas queriam. Então esse trabalho ele tem que ser dos dois lados para que a coisa funcione. Eu acho que esse é o caminho correto. Caso contrário, desculpa me estender um pouco, daqui um ano, a senhora vai vir aqui e vai dizer: “Olha, os números aumentaram”. Obrigado, vereadora.
VEREADORA TATIANE FRIZZO (PSDB): Vereador, eu discordo do senhor. Eu acho que a Legislação Maria da Penha veio para auxiliar as mulheres, para dar proteção. E muitas vezes as mulheres... Aliás, o próprio termo feminicídio é muito novo. Não existia feminicídio até a Legislação Federal de 2015. Passou a existir a partir disso. Até então, as mulheres entravam nas estatísticas comuns. Então não tem como a gente dizer que antigamente se tinha menos, se não existia uma legislação específica. Entrava como homicídio, como assassinato, como... Agora não. Agora a gente tem um controle desses dados. E a Lei Maria da Penha foi muito importante porque, a partir disso, as mulheres passaram a ter proteção, passaram a ter como denunciar esse crime. Se o senhor observou o vídeo que eu passei, 86% das mulheres que sofreram feminicídios não tinham medida protetiva. E a medida protetiva é um instrumento muito importante. Aqui o Estado fez uma política que é imprescindível e que era uma reivindicação da Rede de Proteção à Mulher, a qual eu integrei muitos anos, que é com relação às tornozeleiras. Hoje, o Estado investiu em duas mil tornozeleiras, num projeto piloto que começou em Porto Alegre e Canoas, para fazer esse monitoramento dos agressores. Ou seja, quando a mulher está... Quando o companheiro está próximo a ela, menos de 200 metros, soa um alarme que a mulher recebe e que também a delegacia recebe. Ou seja, a Patrulha Maria da Penha é avisada que aquele agressor está descumprindo o que diz em lei. Só que, se a mulher não pede a medida protetiva, ela não tem esse recurso. Então, o que nós precisamos é, primeiro, trabalhar sempre na prevenção. Por isso que eu acredito o quanto é importante o trabalho que a PMP faz indo a escolas, indo às Unidades Básicas de Saúde. Como nós vamos começar esta semana, a partir dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, ir à rua, entregar material, conversar com as pessoas. Porque essas ações de prevenção são fundamentais, eu não tenho dúvida. E tratar o agressor, concordo com o senhor, é fundamental também. Mas a Lei Maria da Penha foi um avanço muito importante para as mulheres. Eu tenho certeza que salvou muitas vidas. Por vezes, as mulheres ainda têm aquele recreio...
VEREADORA MARISOL SANTOS (PSDB): Um aparte, vereadora.
VEREADORA TATIANE FRIZZO (PSDB): Aquele medo de pedir a medida protetiva, e não deveriam. Porque a medida protetiva é uma segurança a mais para essa mulher. E esse projeto piloto, que inicia em Porto Alegre e Canoas, a gente vai lutar para que Caxias do Sul também tenha esse monitoramento. Porque a gente sabe, sim, que eles descumprem as medidas, e que a Patrulha Maria da Penha tem sido extremamente efetiva. Por quê? Porque, antigamente, eles se aproximavam da mulher para tentar reatar ou para intimidar a mulher, e nada acontecia. Agora, se eles descumprem, eles podem ser presos em flagrante. A Patrulha Maria da Penha inibiu muito esse tipo de comportamento. Seu aparte, vereadora Marisol. Estela, primeiro.
VEREADORA ESTELA BALARDIN (PT): Enfim, a gente tem tanto a falar sobre esse tema, mas eu vou me ater a uma questão que fala para os nossos colegas, vereadores homens que estão aqui. No dia 6 de dezembro, a gente tem a Lei do Laço Branco, que é o dia da mobilização dos homens pelo fim da violência contra as mulheres. Então, no dia 29, no dia 30 e no dia primeiro, durante as sessões, a TV Câmara estará à disposição para gravar com todos vocês que quiserem gravar os relatos de vocês sendo parceiros dessa luta, que não é apenas nossa. Nós lutamos por temer as nossas vidas; mas ter vocês ao nosso lado é fundamental para que a gente avance e para que a gente, algum dia, possa alcançar o objetivo de não ter mais esses dados, não ter mais essa realidade que é a violência. Então dia 29, dia 30 e dia primeiro vocês serão notificados no gabinete. Mas eu deixo esse convite, esse pedido para que vocês façam parte dessa luta pelo fim da violência contra a mulher. Muito obrigada.
VEREADORA TATIANE FRIZZO (PSDB): Vereadora Marisol.
VEREADORA MARISOL SANTOS (PSDB): Rapidinho, vereadora Tatiane. Só para lhe parabenizar pelo tema, por trazer essa reportagem muito bem feita, aliás, pelo Josmar, pelo colega Josmar Leite. Há um trabalho importante que vem sendo realizado; a gente acompanhava isso há bastante tempo aqui, pela justiça também em Caxias, em relação a esse acompanhamento dos homens agressores. Eu tenho certeza absoluta de que essa questão de que os números aumentaram é muito relativa, não é? O que aumentou foi a possibilidade de efetivamente eles serem divulgados, eles serem investigados e os agressores serem punidos, que é o que a gente espera.
VEREADOR JULIANO VALIM (PSD): Declaração de Líder, presidente.
VEREADORA MARISOL SANTOS (PSDB): Então, que bom que a senhora fala um pouquinho. Eu tenho certeza que a gente ainda vai falar bastante sobre as ações dos próximos dias, a caminhada, os bate-papos, as palestras. (Esgotado o tempo regimental.) Porque é importante demais que a gente discuta esse tema, e ainda obviamente não é a situação ideal, a gente ainda sofre muito a violência, mas a gente já caminhou muito para melhorias. Isso é muito importante que a gente avalie.
VEREADORA TATIANE FRIZZO (PSDB): Com certeza, vereadora Marisol. Então vou pedir para o pessoal da TV Câmara mostrar rapidinho os telefones. Nós temos o 180, que é um telefone nacional da Secretaria da Mulher; nós temos o 190 para casos de agressões que precisem da Brigada Militar; temos o telefone do Centro de Referência da Mulher, que é o 3220 9280, e também o da Delegacia da Mulher. Então é muito importante que as mulheres não se calem, que elas busquem auxílio, que elas compreendam o que é violência, porque, por vezes, as mulheres entendem a violência apenas como a física, e a gente sabe que não é isso. E dizer que eu tenho muito orgulho de ser autora dessa legislação, da Semana de Combate ao Feminicídio e de estar há tantos anos lutando em prol das nossas mulheres, da segurança da nossa sociedade e sabendo que, de fato, essas ações fazem, sim, a diferença na nossa comunidade. Muito obrigada.