VEREADOR RENATO NUNES (PR): Senhor presidente, senhoras vereadoras e senhores vereadores. Até aqui fora dos microfones já pedi a permissão para o meu líder de governo, expliquei para ele a situação e vou votar, vereador Thomé, no momento oportuno, pela derrubada desse parecer de inconstitucionalidade. Por quê? Porque eu entendo que esse seu projeto é muito bom. Ele não é bom. Ele é muito bom. E até gostaria de explicar, porque a gente fala aqui “institui o Mercado das Pulgas”. Tem gente que não entende o que é isso aí. “Ué, mas será que vão vender pulga lá? O que é que vai ser?” Tem pessoa que não entende. Mercado das Pulgas, para quem não conhece... Não, é sério mesmo. Não é menosprezando aqui as pessoas ou subestimando a inteligência das pessoas. Só que tem pessoa que realmente não entende o que é Mercado das Pulgas. Fiz aqui uma brincadeira. Mas, brincadeiras à parte, Mercado das Pulgas, para quem não sabe – como o senhor já falou, acontece e dá certo em muitos lugares –, é aquele mercado, aquela feira que acontece, onde as pessoas disponibilizam tudo quanto é tipo de objetos antigos. Como se fala? Antiguidades, coisas muito raras. Então é algo muito bonito. Por quê? Porque ali tem o lado artístico, cultural, histórico. Por exemplo, eu não estou aqui fazendo propaganda, mas aqui na nossa cidade, aqui na Sinimbu, mas ao final da Sinimbu, nós temos algumas lojas de antiguidades, de coisas antigas. Tu entras lá dentro, é como se você voltasse na máquina do tempo, voltasse décadas ou séculos atrás. É muito bacana. Porque é uma forma... Hoje em dia a gente vive na era da modernidade, da tecnologia, da internet, todo mundo conectado. Hoje em dia, como já foi falado aqui algumas vezes, as crianças praticamente nascem com um celular na mão, nascem com o celular na mão. E o que acontece? Às vezes a pessoa... Tem criança que sabe, ela conhece muito bem o que é um celular, um tablete, um notebook, a internet, ela navega, ela faz isso, faz aquilo. Mas parece que o passado.. Tu falas “o que é uma vitrola?”. Ela não sabe o que é. Não é verdade? Tem coisas que estão ficando, assim, no esquecimento. Isso a gente não pode deixar apagar. Eu, quando entro nessas lojas, gosto de entrar e ver. Pena que eu não posso comprar muita coisa, porque, na verdade, o que é raro é caro, porque não existe mais, não existe mais. Tem gente que não dá importância, por exemplo, a uma roda de carreta. Parece lixo, uma coisa velha, uma roda de carreta, uma roda de arado, um arado. Tem gente que não sabe o que é um arado. Daqui mais alguns anos não vai saber o que é um trator. Não sabe o que é uma enxada. Enfim, aqueles objetos de plantar manualmente e tal, aqueles relógios antigos. Então, enfim, quando eu vou a esses lugares, do que eu me lembro, vereador Thomé? (Manifestação sem o uso de microfone) É, os rádios antigos, aquelas televisões antigas, não é? Quando eu entro nesses lugares sabe o que eu penso? Eu me lembro do meu pai, eu me lembro da minha mãe, dos meus avós. (Esgotado o tempo regimental.) Meu presente, já que está cedo e a gente tem esse poder regimental, vamos parlar um pouquinho mais. O projeto é importante. Uma Declaração de Líder.
PRESIDENTE ALBERTO MENEGUZZI (PSB): Declaração de Líder à bancada do PR. Segue com a palavra o vereador Renato Nunes.
VEREADOR RENATO NUNES (PR): Muito obrigado. Então, quando eu entro nesses lugares, vereador Thomé, é como se eu entrasse na máquina do tempo, voltasse atrás. (Esgotado o tempo regimental.) Eu fico pensando: “Poxa, meu avô usou um relógio desses; o meu bisavô usou essa máquina aqui para trabalhar.” Se não fosse ele, eu não existia, não é? Se não fosse ele eu não existia, porque não... Então é algo muito importante. Eu tenho aqui na Casa também, por exemplo, que se assemelha a este projeto de V. Exa., a feira musical. A feira musical, que é outro projeto belíssimo, diga-se de passagem. Não é porque fui eu que apresentei, mas, realmente, é muito bom, porque valoriza os cantores, os artistas, os compositores, os grupos musicais, as bandas musicais aqui da nossa terra. E este seu projeto, que é o mercado das pulgas, é um tipo de feira, de mercado, que valoriza a nossa história, poxa! Que valoriza a nossa história. Por exemplo, é como os prédios antigos. Nós temos aqui na nossa cidade prédios que foram, como se diz, tombados, houve o tombamento; tem outros os lugares que construíram uma parte, mas deixaram, preservaram aquela parte antiga. E tem uma música... Acho que os senhores e senhoras vereadoras sabem que eu gosto muito do tradicionalismo. O CTG, por exemplo, é como se fosse um mercado das pulgas, porque preserva a nossa história, preserva o passado. Uma coisa que não tem valor, por exemplo, pega aí, como eu falei, uma rosa de carreto, uma arado, uma coisa antiga, assim, que não tem valor para ninguém.
VEREADOR FLAVIO CASSINA (PTB): Um pequeno aparte, vendedor?
VEREADOR RENATO NUNES (PR): Isso aí, lá no CTG, meu amigo, é uma obra, é uma obra de arte, é algo muito valioso. Um lampião. Não estou falando do Lampião, aquele da Maria Bonita, é outro; o lampião aquele que... Querosene. Porque tem gente que não... A gurizada hoje não sabe o que é o lampião. Eu acho que elas pensam que a gente sempre teve a energia elétrica, a internet, que a gente já nasceu com a internet, com tablete, com celular ali navegando nas redes sociais. Tem gurizada aí que não sabe que tinha Orkut. Então, imagina, não é? Aqueles ferros de passar com brasa. Olha a dificuldade que era. Quem pediu aparte? Vereador Flavio Cassina, por gentileza.
VEREADOR FLAVIO CASSINA (PTB): Vereador Renato, eu não sou dos vereadores mais viajados aqui da Casa até, conheço pouco mais que Flores da Cunha. Mas, em algumas cidades que eu estive, e cito como exemplo Buenos Aires, existe uma Feria de Antiguidades de San Telmo. É uma coisa fantástica! Próxima à Bombonera, estádio do Boca Juniors. E essa Feria de Antiguidades tem tudo que se possa imaginar. Até me chamou atenção, tinha um artigo lá que eu olhei aquilo e me impressionou, e digo: “Bah, eu quero ver isso aqui.” Era um marfim todo trabalhado, com gravações, feito na China. Aí eu resolvi pedir o preço: $25.000. Mas, daí a pouco, veio um cidadão e comprou. Quer dizer, se eu sou pelado, não necessariamente nem todo mundo tem que ser. Mas eu digo isso para dizer que a variedade de produtos que tinha, de antigos, principalmente, uma coisa fantástica. E aquilo é um procedimento turístico da cidade de Buenos Aires internacional, é divulgado internacionalmente. Então já virou uma coisa que não tem quem não vá a Buenos Aires que não seja induzido a visitar essa feira.
VEREADOR ADILÓ DIDOMENICO (PTB): Se sobrar um espaço, um aparte, vereador.
VEREADOR RENATO NUNES (PR): Obrigado, Flavio Cassina. O senhor diz que não é um dos mais viajados, mas, quando Deus disse: “Haja luz!”, o senhor puxou a fiação, não é? Estou brincado. Um aparte para o senhor.
VEREADOR ADILÓ DIDOMENICO (PTB): Obrigado, vereador Renato. V. Exa. toca num ponto muito importante. O Cassina citou San Telmo, nós poderíamos citar a feira de antiguidade de Montevideo que está no calendário turístico da cidade, como está San Telmo para Buenos Aires. Então isso é um motivo de incentivo ao turismo, de arrecadação na cidade e é um passeio fantástico, é voltar no tempo. Eu fui criado por uma mãe que era costureira e que todas as noites me pedia para encher o aladdin com um litro de querosene e ela costurava até terminar o querosene. Era 11h30, meia noite, meia hora, dependendo de como escurecia mais cedo. Isso os jovens nem sabe o que é esse lampião, o aladdim, o petromax, o ferro a brasa que V. Exa. citou, que fazia com que as pessoas botavam em cima do fogão a lenha para esquentar ele, às vezes, para ajudar porque só a brasa não era suficiente. Então cumprimentos ao vereador Thomé, projeto interessante e V. Exa. toca bem no cerne da questão. Obrigado pelo aparte.
VEREADOR RENATO NUNES (PR): Obrigado, vereador Adiló. O espírito desse mercado das pulgas é exatamente esse, é valorizar o nosso passado, a nossa história. Eu vejo assim. Vereador Flavio Cassina o senhor disse que teve uma situação que o sujeito pagou não sei quantos mil para... 25 mil dólares. Ainda bem que tem pessoas que investem dinheiro nessas coisas porque é uma forma deles preservar, é uma forma deles guardar a história. Por exemplo, lá em casa eu tenho alguns objetos, alguns utensílios antigos. Por exemplo, eu tenho um fogão a lenha dos mais antigos que eu nem uso, não está funcionando, mas está lá e eu tenho o prazer de ter aquele fogão lá. Tem algumas outras coisas antigas também. Eu tenho uma máquina de costurar que era da minha avó, aquela com pezinho. Está lá em casa guardadinha e alguém diz: Ah, por que não bota fora? Por que vou botar fora? Isso não vale nada. Pode não valer pra ti, mas para mim vale. Eu tenho... Uma das coisas que eu herdei do meu pai, só para terminar, nobres pares... Por exemplo, eu não herdei dinheiro, bens, propriedades. Sabe o que eu herdei do meu pai? Uma caixa de ferramentas, tem tudo quanto é tipo de ferramenta lá. Ferramentas antigas, mas que funcionam. Não é só a caixa de ferramentas, a caixa com todas as ferramentas lá dentro. Aquelas ferramentas que ele usava para me dar comida, para me sustentar. O meu pai era eletricista e ele muito em fiação, muita parte de eletricidade ele fez em casas, em obras. Naquela época fazia aquela instalação no poste. Então tem todas as ferramentinhas lá, os alicates. Tem coisa que hoje em dia nem... Tem coisa muito melhor, ferramenta bem melhor, mas aquelas ferramentas, para mim, tem muito valor, não vou vender. Não dou, não vendo, não empresto. E sabe uma coisa que eu tenho também, só para concluir, senhor presidente, duvido aqui algum vereador que tenha, eu tenho o primeiro sapato que tive na minha vida. O primeiro sapato que eu tive na minha vida o meu pai guardou, de couro, antigo, de couro, o meu pai guardou todos esses anos e agora, um pouquinho antes de ele falecer, me entregou: Vou te entregar, o teu primeiro sapato. Talvez para muita gente não vale nada, mas para mim vale.
VEREADOR RAFAEL BUENO (PDT): Peço a palavra, presidente.
VEREADOR RENATO NUNES (PR): Isso é o mercado das pulgas, história, cultura, lazer, diversão por que não? E é uma máquina do tempo, de você voltar no passado e valorizar, não é. Como diz a música gaúcha aquela: “Eu não vou matar meus avós para ficar de bem com os netos.” Não. Tem que guardar muito bem a nossa história. Parabéns, vereador! Estou liberado aqui pelo meu líder de governo. Vou votar junto com o senhor, a favor do projeto e contra o parecer de inconstitucionalidade.