VEREADOR RODRIGO BELTRÃO (PT): Boa tarde, senhor presidente; nobres pares; cidadãos e cidadãs que acompanham esta importante sessão, a minha saudação. Primeiro, apenas a título de fazer uma pontuação em relação ao rito. Embora seja uma prerrogativa da defesa em requerer, novamente, a leitura da peça de denúncia que nos consumiu aqui 4 horas, certamente, entendi, Dr. Heron, como uma estratégia de V. Sa. para tentar desmobilizar os cidadãos aqui presentes. (Palmas) Tentar dar um cansaço, mas foi tiro no pé, porque esse povo demonstra que não vai descansar na fiscalização deste governo. (Palmas) E tenho dito que, inclusive, o verdadeiro remédio para governo ruim é isso aí: é fiscalização, é cobrança, mobilização popular. Dito isso, quero fazer uma análise aqui do contexto em que estamos em que, há pouco tempo atrás – e a própria peça da denúncia traz isso de forma reiterada –, nós temos uma democracia só no país; nós não temos uma democracia do então vereador Guerra, do então vereador Renato Nunes, que aqui sapateavam para que ocorresse o golpe parlamentar em nível de Brasil 2016; e agora, aqui é outra democracia que parece os ter elegido. Porque, agora, o impeachment é o golpe; o impeachment é que não querem deixar o prefeito de trabalhar. Enquanto, na verdade, se demonstrou a importância desse pedido de impeachment. E quero dizer que, se voltasse lá em dezembro, votaria pela admissibilidade e pelo transmitir novamente. Porque, se a gente pegar só a questão do Postão 24 Horas, onde o prefeito se obrigou a voltar atrás porque sabia que estava cometendo uma ilegalidade, fosse só por isso, quero dizer que a luta valeu a pena. (Palmas) Quero dizer que permitir o trâmite desta peça fez com que se acabassem alguns mitos, um deles era de que esta Câmara não queria deixar o prefeito trabalhar. Enquanto esta Câmara, em todas as ocasiões em que foi instadas, deu demonstração de maturidade, de responsabilidade. E nesse sentido, devo elogiar a Comissão Processante que, ao contrário, inclusive, do que a defesa tentou judicializar dizendo que havia uma suspeição sobre o relator, se demonstrou justamente o contrário. Mas o que ficou latente é sempre esse jeitinho: o prefeito vai lá na Justiça pedir para depor por último e não vem à Casa prestar o seu depoimento. (Palmas) E nesse sentido, nós temos sempre que lembrar que os autores desta peça foram 29 cidadãos e cidadãs, usufruindo do seu direito democrático de protocolar uma peça. Porque a gente não pode cair na aquela ideia de que todo pedido de impeachment golpe. Houveram dois pedidos anteriores onde ficou claro que havia uma motivação política naqueles pedidos; obviamente que nesse terceiro também, porque a política não é errada, o problema é quando a política é levada para interesses próprios. Mas esses 29 cidadãos, através dos sete pontos elencados, demonstraram situações, sim, que precisavam ser aprofundados. Por exemplo, no entendimento deste vereador, é óbvio que o prefeito Daniel Guerra tenta e tentou, com todos os seus instrumentos, obstaculizar a Câmara. Onde que já se viu vereadores, democraticamente eleitos, serem proibidos de falar com o secretário para resolver as demandas da população. No entanto, e paradoxalmente, agora, quando houve o processo de impeachment, havia secretário, por exemplo, querendo falar com este vereador. E aí eu disse: “Não, eu só falo com o Caetano, porque essa é a determinação do prefeito.” Como é que nós podemos imaginar que um prefeito que foi eleito na mesma democracia que o vice tente, por um expediente interno do Poder Executivo, extinguir o mandato do vice. E não satisfeito com tudo isso, ele politiza a Procuradoria Geral do Município e entra com uma ação declaratória para extinguir extinguir o mandato do vice, enquanto nem haveria competência para tal. No meu entendimento, essa questão do Postão, onde o prefeito, ao arrepio da Lei Orgânica, lançou edital e sim tentou com todas as suas forças privatizaram o Postão, mas não conseguiu. (Palmas) Porque neste episódio foi clareando para o próprio prefeito que ele tinha uma visão quando da sua posse que ele seria o dono da cidade, e, aos poucos, a população vai demonstrando através da sua mobilização, que nós estamos dentro de um estado democrático de direito onde o prefeito sim tem uma função importante, cumprir as leis, executar as leis, mas existe o Poder Legislativo, existe o Conselho Municipal da Saúde, existe o Poder Judiciário e assim por diante. No entanto, nós temos um problema colocado. Esse Decreto Federal 201/67 que regulamenta os procedimentos do impeachment, primeiro que só pela data nós podemos identificar que ele foi concebido em meio a um processo de ditadura, um processo de recessão do país; segundo, que lá não há uma pena intermediária, ou se cassa ou se absolve, e é aí que está o problema, porque, no meu entendimento, há três infrações político-administrativas, mas que seria desproporcional por conta delas, apear o prefeito do poder e fazer aquilo que ele fez em nível de Brasil junto com os seus asseclas, vou usar o mesmo termo que ele usou. Se nós tivéssemos como referência a conduta do então vereador Daniel Guerra, e volta a usar o termo, que sapateava em nível de Brasil batendo panela e querendo a queda de um governo legitimamente eleito, nós teríamos que hoje cassar o prefeito, mas nós temos que demonstrar que o nosso parâmetro não é a conduta do prefeito. O nosso parâmetro é a nossa coerência e o que nós juramos aqui que é cumprir a Lei Orgânica. Então, eu entendo que esses três pontos: a obstaculização da Câmara, a extinção do mandato do vice-prefeito, que foi tentado, e a privatização do Postão são questões que devem inclusive ser aprofundados pelo Ministério Público e, posteriormente, pelo Judiciário através de ações que devem continuar. No entanto, a este Poder Legislativo, nesse momento, cabe sim salvaguardar o resultado eleitoral de 2016, porque se tiver uma pessoa nesta cidade que, desde o segundo turno, faz mais oposição do que este vereador, eu duvido. Pode fazer igual. Porque não fui conivente no segundo turno, não pedi voto, não votei e sou oposição desde a primeira hora e serei até 31 de dezembro de 2020. No entanto, nós entendemos que o mandato do prefeito tem que ter o seu trâmite normal, a não ser que haja um crime de responsabilidade doloso com ataque aos cofres públicos, o que nesta peça não se demonstra. Agora, outra tentativa que nós também temos que sepultar que é a estratégia do governo em sempre tentar desqualificar as pessoas. Primeiro com este parlamento, depois com os médicos, depois com a empresa concessionária, onde sempre trazendo uma ideia de conflito da sua comunidade, enquanto nós sempre esperávamos que o chefe do executivo pudesse ser a liderança para os conflitos buscando unidade na divergência, aproximando o movimento social e, no contrário, é um prefeito que estimula a discórdia a tal ponto que a pressão foi insustentável e essa peça sim admitida em dezembro foi importante. Foi importante para quebrar um pouco a crista do prefeito, para trazer para esta Casa Legislativa o contraditório acerca desses pontos. E nós esperamos que, de uma forma definitiva, o prefeito possa ter tomado uma lição democrática, (Manifestação na plateia.) porque a democracia que elegeu ele também elegeu os 23 vereadores. No entanto, estes vereadores, e quero falar agora por mim porque estou aqui na tribuna para manifestar o meu voto, nós não queremos fazer do processo de impeachment um remédio para governo ruim. Remédio para governo ruim é fazer oposição e, no momento oportuno, apresentar uma alternativa porque se continuar esse governo já retrocedeu vinte anos em dois, imagina aonde vai ir a nossa saúde, a nossa educação, a nossa segurança. Eu lembro quando nós tivemos o episódio onde os indígenas protegidos por lei federal e que faziam o seu trabalho no centro, lá em 21 de janeiro de 2017, foram brutalmente agredidos. Naquela ocasião, quando nós tecemos algumas críticas corretas a Guarda Municipal, e, posteriormente, quando nós denunciamos abusos de um ...
causando traumatismo craniano, usando gás, bomba de gás, em vereador e na nossa comunidade. Naquele momento, a Guarda Municipal veio para cima desta Câmara, veio para cima deste vereador e nada como o tempo, porque, depois de alguns meses, a maioria dos guardas veio aqui na Câmara fazer denúncias contra este governo. Porque essas promessas todas feitas pelo prefeito são como balões de ensaio, parece grande, parece um salvador da Pátria, que vai resolver o problema da segurança, da saúde, da educação, mas, na verdade, na prática, tem-se demonstrado um verdadeiro algoz. Não é à toa que hoje nós temos dezenas e dezenas de médicos a menos, enquanto foi eleito para ter mais saúde. Nós temos conflitos na nossa comunidade onde presidentes de bairro são taxados da velha política e, portanto, são tratados como leprosos, onde não são atendidos seus pleitos. Então eu espero que esse processo de impeachment, todo esse necessário procedimento que ocorreu, porque alguns vão dizer: “Ah, gastaram tempo, gastaram dinheiro, mas a democracia tem um custo”. E essa democracia tem que servir para afirmar que esses poderes têm harmonia e que o prefeito pare com essa mania de se achar o monarca porque de monarca não tem nada. Ele é um prefeito eleito para um mandato de quatro anos e que não pode extrapolar do que diz a lei. Quero dizer que, nesse momento, é muito fácil as pessoas fazerem, talvez, algumas comemorações embaladas por uma mídia em nível nacional que tem seus interesses, que está articulada com a elite nacional, com a elite internacional, mas nós estamos vivendo um momento no país bastante grave, um momento de um estado de exceção, de uma ameaça à democracia. Entendo que nós aqui em Caxias do Sul, que temos uma cultura democrática onde tivemos o advento do orçamento participativo e depois para o prefeito Sartori se eleger e para o prefeito Alceu se eleger tiveram que garantir que iriam continuar um processo de participação e, de certa forma, nos seus moldes, mesmo com críticas que já a fizemos no momento oportuno, de certa forma, continuaram. Entendo que o prefeito tem que entender que este processo, essa vocação democrática da nossa cidade tem que continuar. Não dá para achar que o prefeito vai governar com a sua caneta ou com o seu anel de monarca, que eu já falei que é a forma que ele se enxerga, e daqui para frente tem que virar essa página. Nós precisamos urgentemente que para esta Casa o prefeito mande projetos, é um governo pobre em termos de induzir pautas positivas. Qual o grande projeto que veio para esta Casa e criou algum impacto social importante, nem Festa da Uva este governo não tem capacidade de fazer e não consegue fazer, porque não tem diálogo. Então esta Casa, e espero que o resultado seja neste sentido, ao arquivar esse processo de impeachment possa possibilitar ao prefeito que repactue acerca da democracia, conversando com esta Casa, conversando com a comunidade e urgentemente implementando o seu programa pelo qual foi eleito para fazer, porque chega de promessas vagas. Então, para finalizar, senhor presidente, nobres pares e comunidade aqui presente, no momento oportuno, vou seguir a orientação do nosso partido, a qual dialoga e está em sintonia diretamente com a minha visão de coerência que nós devemos demonstrar nesta Casa. Alguns disseram o seguinte, criticaram a opinião dos partidos. Aí nós temos que entender onde está a coerência porque o problema é quando os partidos se escondem não assumem as suas responsabilidades, porque partido político é para ter opinião política e as pessoas só podem fazer algum nível de crítica quando as pessoas têm opinião. Então isso é saudável numa democracia. O problema é quando acontece o estelionato eleitoral como nós estamos vivendo, onde o prefeito se apresentou com um viés popular, foi lá no Monte Carmelo prometer mundos e fundos para aquelas pessoas e, agora, aquelas pessoas comem pó, estão excluídas de qualquer processo de diálogo com este governo. Então que esta Casa neste dia demonstre altivez, demonstre responsabilidade e vocação democrática, tudo que falta ao prefeito, mas que isso traga esse aprendizado a quem está no governo. Porque eu volto a dizer duas coisas que disse no dia, na primeira sessão depois da eleição: primeiro, que a democracia que elegeu o então vereador Guerra, hoje prefeito, é a mesma democracia que elegeu a presidenta Dilma e foi apeada do poder; e, segundo, que tenho a obrigação, como alguém que defende o Município de Caxias do Sul, de torcer que ele faça um grande governo. Acho difícil...
(em elaboração)