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Cine debate coordenado pela Escola do Legislativo mobiliza discussões sobre a população negra em Caxias e no país

Encontro reuniu estudantes, autoridades e representantes do movimento negro, na sala de conferências do Centro Universitário da Serra Gaúcha/FSG


Um cine debate promovido pela Escola do Legislativo, na noite desta quarta-feira (16/11), mobilizou discussões sobre a realidade da população negra em Caxias do Sul e no país. O encontro reuniu estudantes, autoridades e representantes do movimento negro, na sala de conferências do Centro Universitário da Serra Gaúcha/FSG.

   Integrando a programação da Semana da Consciência Negra no município, a atividade contou com apoio dos diretórios acadêmicos de Psicologia, Direito e Relações Internacionais da FSG e teve como ponto de partida um documentário produzido pela Organização das Nações Unidas (acesse aqui). O coordenador do Centro de Memória da Câmara, Eduardo Reis, apresentou os debatedores e discorreu sobre o propósito do cine debate.

Como debatedores participaram o diretor da Escola do Legislativo, vereador Edson da Rosa/PMDB; o professor Lucas Caregnato; o empresário e presidente do Coletivo Senegal, Ser Negão, Ser Legal, Cheikh Mbacke Gueye, mais conhecido por Cher; o presidente do Movimento Negro Imigrante no Brasil (MNIB), Demba Sokhna; o estudante de jornalismo Rodrigo Moraes; e a presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra (Comune) e coordenadora estadual de Comunicação do Movimento Negro Unificado (MNU), Maria Geneci Silveira.

O documentário apresentou depoimentos de profissionais ligados ou integrantes da comunidade negra, destacando atuais avanços e desafios. O vídeo também informa que 53% da população brasileira são negros e que, desde a abolição da escravatura (1888), o negro ainda dispõe de pouca representatividade em muitos setores. Outro dado é de que jovens negros têm duas vezes e meia mais chance de serem assassinados no Brasil.

Em termos de reflexão e ação, o parlamentar Edson da Rosa defendeu o respeito, independentemente da etnia, e o cultivo da tolerância e da paz entre as pessoas. Também ressaltou a relevância das referências na sociedade: “Se não temos referências, nem sempre conseguimos nos enxergar. Num momento em que há tantos conflitos e intolerância, além das referências, precisamos de respeitabilidade e deixar que prevaleça a pessoa, independentemente da cor da pele”.

Maria Geneci propôs um trabalho conjunto no sentido de estancar ou reduzir a discriminação. “O preconceito surge também por falta de conhecimento. Quando você passa a conhecer, por exemplo, a cultura dos senegaleses, passa a se encantar e não larga mais deles. Para descomplicar, é melhor conhecer”, sugere a dirigente.

Demba observou com surpresa que, no Brasil, ainda hoje se está correndo atrás das cotas e se vê basicamente brancos contando a história dos negros. “E por que somente há afrodescendente e não branco descendente?”, questionou. Além disso, informou que o MNIB tem trabalhado para mostrar as potencialidades das relações econômicas, culturais, políticas e sociais entre os governos do Senegal e do Rio Grande do Sul. “Muitas pessoas não acreditam que o negro pode ter conhecimento, mas pode ter sim”, defendeu Demba, que é formado em Letras e Ciências Humanas e fala várias línguas.

Rodrigo Moraes ressaltou que a história do negro é de luta e, no Brasil, seriam cinco séculos de desigualdade. “Eu sou o que sou porque somos juntos”, frisou ao referir-se à força da coletividade.

Cher contou que, no Senegal, muitas pessoas nem sabem o que significa o termo racismo. Ele próprio conheceu a expressão e o sentimento aqui, no Brasil. Na sua avaliação, em Caxias do Sul, há preconceito, mas tenta superá-lo e tocar a vida adiante. Dono de uma gráfica, relata que algumas pessoas pensam duas vezes em encomendar o serviço após ver que ele é negro. Também percebe que há essa resistência por parte de alguns clientes quando ele menciona o número da conta acompanhado de sua identificação. “Quando coloco o meu nome, já começam a desconfiar. Eu estranho isso porque acho que, no paraíso ou no inferno, não existe uma porta para os brancos e outra para os negros”, reflete.

No espaço aberto à manifestação da comunidade, o acadêmico de Direito na FSG Marcelo Daniel Farioli comentou que cor e raça não fazem diferença, pois todas as pessoas são capazes: “Que a humanidade consiga ver a grandiosidade das pessoas, independentemente da cor, dos gostos e das crenças”.

   Outro estudante do campo do Direito, Luis Tessis questionou se o sistema de cotas nas universidades não seria uma forma de menosprezar os negros. Lucas Caregnato disse que é uma forma de acesso dos negros ao Ensino Superior, formação que por muito tempo não tiveram como cursar. Destacou, ainda, que as cotas integram as políticas afirmativas, as quais não têm propósito de serem permanentes, mas sim provisórias. Lucas acrescentou que a luta dos negros por espaços e acessos deveria ser um compromisso de todos. Estudante de administração da FSG, Zeferino Rodrigues da Silva também considerou as cotas uma oportunidade de ingressar no campo da qualificação.

Jovem Parlamentar de 2014 e acadêmica de Relações Internacionais da FSG, Lara Sosa cumprimentou a organização do cine debate e disse que esse tipo de atividade deveria ocorrer com mais frequência. O encontro desta noite durou cerca de duas horas e meia e contou com a presença de aproximadamente 50 pessoas.

SAIBA MAIS:

Semana Municipal da Consciência Negra:

A Semana Municipal da Consciência Negra foi criada pelo Decreto Legislativo nº 50/A, de 13 de dezembro de 1996. O texto prevê que a programação antecede o dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra e Ação Anti-Racismo, e envolve, além do Parlamento e de outros órgãos público, a comunidade negra.

Escola do Legislativo:
A Escola do Legislativo de Caxias tem como referência física a Casa de Leitura, Memória e Educação Legislativa, no subsolo da Câmara. Um dos seus objetivos é aprofundar a aproximação entre o Parlamento e a comunidade, por meio de projetos de educação política e mecanismos de participação popular, visando ao fortalecimento do poder Legislativo como instrumento essencial ao Estado democrático e ao exercício da cidadania. A Escola do Legislativo também busca ampliar ainda mais a qualificação dos servidores e o diálogo com as câmaras da região, por meio de palestras, cursos e trocas de experiências. 

16/11/2016 - 22:43
Assessoria de Imprensa
Câmara Municipal de Caxias do Sul

Editor(a) e Redator(a): Vania Espeiorin - MTE 9.861

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