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Câmara Municipal agracia cinco personalidades com a Honraria Especial Aldo Locatelli: 100 anos de história e legado

Os homenageados foram Alvino Brugalli, Emilio Sessa, Ivan Furlan, Padre Eugênio Giordani e Véra Zattera


Emoção e admiração a pinturas sacras eternizadas na mente e nos corações caxienses preencheram as quase duas horas da sessão solene da Câmara Municipal de Caxias do Sul, realizada na noite desta terça-feira (18/08), na Igreja São Pelegrino. Cerca de 150 pessoas prestigiaram a outorga da Honraria Especial Aldo Locatelli: 100 anos de história e legado, conferida a Alvino Melquides Brugalli, Emilio Sessa (In Memoriam), Ivan Antonio Furlan, Padre Eugênio Ângelo Giordani (In Memoriam) e Véra Stedile Zattera.

Se estivesse vivo, na data de hoje, o falecido pintor e muralista ítalo-brasileiro Aldo Daniele Locatelli teria completado um século. O presidente da Câmara, vereador Flavio Cassina, conduziu a solenidade, inédita no templo religioso do bairro de mesmo nome.

Idealizador da homenagem, o vereador Gustavo Toigo foi ao púlpito. "Quando criança, ao vir à igreja, trazido pelo meu pai, sentia um misto de fantasia, encanto, espanto e realidade, diante do vigor de representação das pinturas", contou. O parlamentar destacou que, por meio de seus afrescos, Locatelli fez da retratação da fé um valor universal. Na sequência, ocorreu a exibição de um documentário de dez minutos sobre a vida e a obra de Locatelli, produzido pela TV Câmara (canal 16 da NET).

Presidente da Associação de Cultura e Arte Aldo Locatelli (Scala), o homenageado Ivan Antonio Furlan pronunciou-se em nome das cinco personalidades. Emocionou-se ao afirmar que, décadas passadas, participava dos cantos do grupo jovem da igreja. Os olhos também ficaram marejados ao lembrar que, mesmo doente, o primeiro pároco de São Pelegrino, Padre Giordani (1910-1985), não deixou de celebrar o seu casamento com Celina Galiotto Furlan. Reforçou que competiu ao empreendedorismo de Giordani, também ex-vereador da Câmara (1956-1963), contratar os trabalhos de Locatelli e do pintor decorativo Sessa.

Furlan ressaltou a própria amizade com Brugalli, que havia participado da organização da Scala, fundada em 1964. O presidente da associação enfatizou que os dois idealizaram a Casa de Memória de São Pelegrino, situada no térreo da pastoral da igreja. "Em meio às obras de reformas da paróquia, ao longo dos anos, a partir de campanhas de arrecadação, foi necessário quebrar uma parede que estava com infiltração. No interior dela, encontramos a pedra fundamental de 19 de março de 1944, marcando o início dos trabalhos originários da atual edificação", comentou.

O dirigente da Scala citou o talento decorativo de Sessa, na composição com os afrescos de Locatelli. Salientou que, por vezes, Sessa executava esboços idealizados pelo colega, como foi o caso da pintura das 14 Obras de Misericórdia (sete corporais e sete espirituais), localizadas nas laterais da igreja. Referiu o empenho de Véra, no cultivo da memória e na propagação da obra de Locatelli. Também reconheceu a dedicação do Padre Mário Pedrotti, que, em cerca de 30 anos à frente da paróquia São Pelegrino, liderou movimentos pela preservação das pinturas sacras e pelas restaurações do templo.

Em seguida, Roberto Locatelli, filho de Aldo, e o Padre Leonardo Pereira, pároco da Igreja São Pelegrino, receberam diplomas de menção honrosa. O mesmo reconhecimento aconteceu com relação ao Padre Mário, cujo diploma ficou com Leonardo. Depois, Roberto fez breves agradecimentos e mencionou as pesquisas de Véra, para manter vivo o patrimônio cultural de Aldo, e a amizade que existia entre Locatelli e Sessa. "Meu pai e Sessa eram como irmãos. Em Porto Alegre, quando criança, aos domingos, ia a jogos de futebol com Sessa", emendou Roberto.

A Câmara ainda entregou placa à Scala. Ampere Giordani, sobrinho do falecido padre, ficou com o diploma e o troféu do pároco precursor da igreja. Quanto a Sessa, já morto, a representação coube ao professor e historiador Arnoldo Doberstein, presidente do Instituto Cultural Emilio Sessa (ICES).

O prefeito municipal de Caxias do Sul, Alceu Barbosa Velho, classificou a celebração como histórica. "As pinturas de Aldo revelam a sua capacidade de, com religiosidade e fé, fazer com que o próprio traço percorresse o caminho entre o divino e profano", observou.

No decorrer da cerimônia, apresentaram-se o Coral Aldo Locatelli e o Quarteto de Clarinetes da Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do Sul. Os homenageados de hoje resultaram de indicações da comunidade ao Legislativo caxiense. O critério de escolha levou em conta o envolvimento de cada um com a obra de Locatelli. A iniciativa partiu do decreto legislativo 2/2015, idealizado pelo vereador Toigo. Como autores do projeto, assinaram os vereadores Arlindo Bandeira, Denise Pessôa, Edi Carlos Pereira de Souza, Edson da Rosa, Henrique Silva, Neri, O Carteiro, Pedro Incerti e Zoraido Silva.

 

Saiba mais sobre Aldo Daniele Locatelli

Natural de Bérgamo, na Itália, nascido em 18 de agosto de 1915, terceiro filho de Luigi Locatelli, mecânico, e de Anna Marzapane, Aldo Daniele Locatelli, de 1928 a 1929, iniciou cursos na "Scuola D'Arte Applicata all'industria Andrea Fantoni", na mesma localidade. Nesse intervalo, conheceu o pintor decorativo Emilio Sessa, de quem se tornou amigo.

Nos primeiros dias de novembro de 1948, Locatelli parte para o Brasil, depois que Sessa é convidado a decorar a Catedral de Pelotas. Sessa forma sua equipe com Locatelli, como especialista em afrescos, e Adolfo Gardoni, estucador, seguido, mais tarde, pelo decorador Attilio Pisoni. A vinda dos artistas teve a participação do então bispo de Pelotas, D. Antonio Zattera. Em 1954, Locatelli transferiu residência para Porto Alegre, no Bairro Petrópolis, onde, aos fundos, fixou ateliê, naturalizou-se brasileiro e recebeu o certificado de reservista do Ministério da Guerra.

A ligação de Locatelli com Caxias do Sul começa no início da década de 1950. A convite do padre Eugênio Ângelo Giordani, assumiu os trabalhos de pinturas sacras, na Igreja São Pelegrino. Em 1951, iniciou pitando o painel da última ceia, junto ao altar do templo. Locatelli também é o responsável pelos quadros da Via Sacra e por todos os painéis do teto da igreja. O artista trabalhou nos afrescos, em momentos distintos. As pinturas murais ocorreram de 1951 a 1960. Os 14 quadros da Via Sacra, elaborados em óleo sobre tela, foram feitos em seu ateliê, em Porto Alegre, entre 1958 e 1960.

Entre outras obras marcantes de Locatelli, em Caxias do Sul, estão o afresco da Ressurreição, na Igreja do Santo Sepulcro, e o quadro da Natividade, na Capela das Irmãs Carmelitas. No Centro Administrativo Municipal, existe o painel intitulado "Do Itálico berço à nova Pátria Brasileira". Alusivo à colonização italiana, no Rio Grande do Sul, o trabalho foi apresentado à comunidade, durante a inauguração do espaço, em 1954, como pavilhões da Festa da Uva, na edição daquele ano.

Em Porto Alegre, há pinturas dele, como as dispostas no salão principal do Palácio Piratini. Também, na Capital gaúcha, o pintor acabaria morrendo de câncer nos pulmões, em 3 de setembro de 1962, no Hospital Ernesto Dornelles.

A pintura de Locatelli contém códigos da pintura clássica e barroca. Espelhava-se em Michelangelo, pelo signo do esplendor. Percorreu o caminho do classicismo-expressionismo-surrealismo. Ficaria marcado para a posteridade, como o "Mago das Cores".

 

CONHEÇA OS HOMENAGEADOS

 

Alvino Melquides Brugalli

Nascido em 21 de julho de 1931, em Mata (RS), Alvino Melquides Brugalli é aposentado e reservista do Exército Brasileiro. Casado com Adelina Tonietto Brugalli e pai de Flávio, Ivan, Marli e Vania, ele veio para Caxias do Sul, em 1950. A sua chegada à Serra gaúcha, passando, antes, por Garibaldi, se deveu a ordenações militares. O momento coincidia com o início das atividades do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAAe), em solo caxiense. Egresso do seminário, Brugalli começou a participar da rotina da Igreja São Pelegrino, por meio do coral. No início dos anos 1960, a pedido do padre Eugênio Ângelo Giordani, participou da organização da Associação de Cultura e Arte Aldo Locatelli (Scala), fundada em 1964. Posteriormente, dedicou-se a pesquisar a história da própria igreja e das suas portas, o que resultou na publicação do livro: "Portas de bronze: fé, arte, história" (Siderúrgica Tomé, 2004). As portas de bronze têm três divisões: amor, paz e justiça.

 

Emilio Sessa (In Memoriam)

Nasceu em Bérgamo, na Itália, em 10 de agosto de 1913. Junto com Aldo Locatelli, estudou na "Scuola D'Arte Applicata all'industria Andrea Fantoni", naquela localidade. Veio para o Brasil, em 1948, com Locatelli, para pintar a Catedral de Pelotas. A dupla também atuou na Igreja Santa Terezinha, de Porto Alegre (1952-1957), na Catedral de Santa Maria (1954), na Igreja Matriz de Itajaí (1955), na Igreja de São Pelegrino, de Caxias do Sul (1951-1956), na Igreja Matriz, de Novo Hamburgo (1962). Retornou para a Itália, em 1965. Faleceu em Bérgamo, no dia 4 de fevereiro de 1990. Em Caxias, na Igreja São Pelegrino, Sessa desenvolveu a parte decorativa em composição com os afrescos de Locatelli. Também, na paróquia de São Pelegrino, executou a pintura das 14 Obras de Misericórdia (sete corporais e sete espirituais), cujo projeto foi concebido por Locatelli. Em solo caxiense, Sessa ainda realizou pinturas sacras na Capela do Colégio São José.

 

Ivan Antonio Furlan

Nasceu em 21 de dezembro de 1958, em Caxias do Sul. Representante comercial e bacharel em Direito, pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), formado em 1987, é casado com Celina Galiotto Furlan e pai de Daniel, Felipe, Gabriela e Rafaelle. Desde 1999, preside a Associação de Cultura e Arte Aldo Locatelli (Scala), entidade filantrópica voltada a reunir recursos, para manter a obra do artista. Entre algumas das ações, por meio da Scala, está o primeiro restauro da Igreja São Pelegrino (2002-2009). No momento, Furlan conduz novo projeto de recuperação do mármore da fachada frontal e de pintura externa da mesma igreja.

 

Padre Eugênio Ângelo Giordani (In Memoriam)

Nasceu em 10 de julho de 1910, no município de Encantado. Foi o primeiro pároco da Igreja São Pelegrino, criada por D. José Baréa, em 27 de fevereiro de 1942. Em 8 de março de 1942, Giordani tomou posse na paróquia. Em 19 de março de 1944, houve o lançamento da pedra fundamental, que daria origem à atual edificação da igreja. A missa de inauguração da então nova paróquia, na Avenida Itália, 50, aconteceu em 2 de agosto de 1953. Coube a Giordani contratar Aldo Locatelli para idealizar e pintar obras sacras, na Igreja São Pelegrino, cujos trabalhos se iniciaram em 1950. O padre idealizou a Associação de Cultura e Arte Aldo Locatelli (Scala), que, desde 1964, busca manter vivo o legado do artista. De 1956 a 1963, na 3ª e na 4ª legislaturas de Caxias do Sul, Giordani atuou como vereador, pelo PDC. O óbito de Giordani ocorreu em 6 de março de 1985, às 23h57min, no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. Os restos mortais de Giordani repousam sobre a pedra fundamental da igreja que idealizou. Em sua lápide, aos pés da Pietà, duas palavras: "Sacerdos Crédidit" (Sacerdote que acreditou).

 

Véra Stedile Zattera

Caxiense, nascida em 17 de maio de 1945, casada com Hugo Zattera e mãe de Adriano, Beatriz e Túlio, é pesquisadora e professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), desde 1969. Graduada em Licenciatura em Desenho e especialista em Vestuário Tradicional e Costumes, já editou mais de 20 trabalhos. Em 1995, publicou o livro "Aldo Locatelli" (Educs, 1995). No Brasil e no exterior, participou de conferências e realizou mais de 150 exposições. Também atua como figurista, inclusive de óperas. Entre alguns prêmios, está o Distinzione, do Consulado Italiano de Porto Alegre.

 

18/08/2015 - 23:47
Assessoria de Imprensa
Câmara Municipal de Caxias do Sul

Editor(a) e Redator(a): Fábio Rausch - MTE 13.707

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